A todo instante alguém se pergunta: que sentido tem estarmos vivos? Gera-se, então, dentro de si, uma guerra que sempre termina em desistência ou em inúmeras contradições. Até porque esta pergunta, já de súbito, pode ser desmenbrada em duas: "Por que estamos vivos?" e "Para que estamos vivos?".
A primeira busca uma resposta no passado, quer uma causa; a segunda busca uma resposta no futuro, quer uma consequência. É nesse ponto que o homem se diferencia dos outros animais, pela sua noção de temporalidade - motivo do seu maior desenvolvimento racional, mas também da sua angústia, pois, como pensa Kant, tudo o que o homem percebe é "encaixado" em sua mente no tempo e no espaço, ou seja, tudo é finito, tem começo, meio e fim.
Quando surge a dúvida sobre o sentido da vida e busca-se a causa, depara-se com um passado infinito. Da mesma forma, quando, a partir dessa dúvida, busca-se a consequência, depara-se com um futuro também infinito. Por isso, nunca se chega a uma conclusão segura, sendo que o conhecimento humano está limitado à finitude, assim como a água dentro de uma jarra está limitada à forma da jarra.
Todavia, cada ser humano é um tempo que se esgota - não o tempo dos relógios, sempre regular e homogêneo, mas o seu próprio tempo - e, devido a isso, persiste-se na idéia do sentido da vida, como uma fuga da possibilidade de a vida ser em vão. O problema deixa de ser, então, a vida como existência individual, passando a ser considerada sob o foco de existência social (dentro dos limites da razão): passa-se a analisar o homem como um "ser-no-mundo", em sua situação concreta.
Agora sim, num mundo finito espacialmente e tratando-se de uma existência que começa no nascimento e acaba no óbito, é possível que o homem acredite inteligível o sentido da vida.
O homem é um ser situado no mundo e, dessa forma, a sua vida está voltada também para este mundo. Um indivíduo vive, o tempo todo, fazendo escolhas as quais não interferem apenas na sua vida, mas também na vida dos outros homens. O único sentido, pois, que se pode encontrar e que englobe em si a vida de toda a humanidade é a liberdade de fazer escolhas, percebendo-se como um "ser-no-mundo" e, simultaneamente, um "ser-para-o-mundo", assumindo, assim, a responsabilidade sobre todas as próprias decisões, já que cada uma delas depende apenas do indivíduo, mas influencia toda a sociedade. "O homem está condenado a ser livre", já dizia Jean Paul Sartre.
Autoria: Samia Moraes